Recuperar o projeto de Jesus
- vocacionalredentor
- 6 de fev. de 2018
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Não basta manter uma observância religiosa rotineira, que não alimenta nossa comunhão vital com Cristo. Sabemos que a alegria de crer e a audácia para evangelizar se alimentam do Espírito de Deus e não do instinto de conservação. Evangelizar é anunciar o Reino de Deus e abrir-lhe caminhos no mundo atual. E o Reino não se edifica somente no interior dos templos, mas ele consiste em construir o mundo tal como Deus quer. Uma fé autêntica implica sempre um profundo desejo de mudar o mundo, de transmitir valores e de deixar a Terra, nossa casa comum, um pouco melhor depois da nossa passagem por ela.
Nesse sentido, o que falta para muitas comunidades cristãs de hoje é aprender a trabalhar por um mundo mais são, mais justo, mais digno e feliz para todos, começando pelos últimos. A mudança decisiva é ir passando de comunidades centradas quase exclusivamente no culto e na catequese para comunidades mais abertas, dedicadas a promover o Reino de Deus no meio dos problemas, conflitos e sofrimentos que se vivem no mundo atual. Não podemos permitir que os sinais sacramentais que celebramos no interior de nossas igrejas substituam os sinais libertadores do reino que Jesus praticava na vida: sinais de justiça, de denúncia, de compaixão, de curas, de acolhimento, de serviço humanizador.
O que Jesus queria quando reuniu discípulos em torno de si foi um movimento profético ao qual Ele confiou duas tarefas: “ide e anunciai” (cf. Mt 10,7-8) e “ide e curai” (cf. Lc 9,2; 10, 2-9). Esse espírito profético está perdido em muitas de nossas comunidades, portanto é hora de recuperar as comunidades de Jesus, libertando-nos do medo, rompendo silêncios e despertando a criatividade do povo de Deus. É preciso viver, no meio da sociedade atual, uma presença alternativa, não conformista com a injustiça deste mundo. O estilo de vida dos que formam a comunidade de Jesus tem de apontar para um mundo mais justo e fraterno, mais digno e solidário.
É preciso desenvolver a indignação profética das comunidades. Uma indignação perante os abusos e as injustiças que sofrem as vítimas. É importantíssimo também difundir a esperança em Deus, que não é conivente com a situação atual do mundo. Temos de acreditar no poder transformador dado pelo Senhor ao ser humano para uma vida mais humana. É possível mudar a trajetória da história, pois não estamos sozinhos, Deus está a implantar o seu Reino no meio de nós.
O grande desafio é ir construindo uma comunidade samaritana: que caminha com os olhos muito abertos para ver com atenção os feridos das valetas; que não entra em divagações perante as vítimas para continuar a caminhar, ocupada nos seus interesses e programas; que se comove e se aproxima dos que sofrem sem perguntar o motivo da situação em que se encontram. Gradualmente temos de ir aproximando a paróquia e a comunidade do sofrimento das pessoas. Necessitamos de comunidades que escutem o que ninguém ouve, que acolham os isolados, que acompanhem os que vivem perdidos, que defendam os mais fracos. O Papa Francisco disse: “Vejo com clareza que a Igreja precisa hoje de capacidade para curar feridas e dar calor aos corações, proximidade e vizinhança”.
O Evangelho nos pede para pormos mais, no centro de nossas comunidades e paróquias, “os últimos”, promovendo gestos, iniciativas, posicionamentos que nos sensibilizem mais e nos levem a partilhar mais de perto os seus problemas e sofrimentos. Também a nós, como a Jesus, “o Espírito do Senhor nos envia para proclamar a libertação aos presos, e aos cegos a recuperação da vista, para libertar os oprimidos e para proclamar um ano da graça do Senhor”. Temos de dar passos para colocar as paróquias e as comunidades na direção dos “últimos”.
Não podemos nos fechar em nosso comodismo, empurrando os famintos e os desesperados para longe e vivermos tranquilos sem escutar o grito ou pranto de alguns. Lentamente temos de aprender a partir dos “últimos”, a optar pelos pobres e sofridos. São eles que podem nos ajudar a sermos mais humanos. Para isso precisamos dar-lhes um lugar maior em nossa comunidade, criar laços de amizade com pobres, imigrantes e entrar nos lugares dos mais esquecidos e desvalidos.
Pe. Fagner Dalbem Mapa, C.Ss.R. - Formador da Comunidade Vocacional Santo Afonso (Juiz de Fora /MG)
Fonte: sabordafe.com
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