Liberdade criativa e fiel
- Pe. Fagner Dalbem Mapa, C.Ss.R.
- 22 de mai. de 2017
- 3 min de leitura

“De que modo nós, pessoas deste tempo, e desta época, podemos chegar a uma compreensão melhor da liberdade?”, se pergunta o teólogo Bernhard Haering que defende profundamente que somos capazes de viver a própria liberdade sem perder a fidelidade a Cristo. Em Jesus descobrimos que Deus nos chama à criatividade e a sermos co-reveladores da redenção e da criação, e somos livres para realizar tal criatividade no mundo. “Ele quer que sejamos co-criativos, co-artistas, e não apenas meros executores, sem espírito, de sua vontade”¹[. Haering ressalta que estamos em um tempo de mudanças profundas e rápidas, de novos desafios que levam a ampliar os horizontes da liberdade, o que exige, de cada um, uma fidelidade criativa.
A lei de Cristo é a lei da liberdade, o amor é a lei da liberdade. Deus não deseja a aplicação mecânica de suas leis, ou respostas gastas e puramente exteriores. Ele quer resposta criativa, ou seja, algo de nós na resposta que damos. Por isso o relacionamento que temos com o Senhor não é de obediência simplesmente, mas de amigos que dialogam. “Não vos chamo servos, mas amigos”.
A revelação é o resultado do diálogo entre Deus e o seu povo. Quem recusa seu dom de criatividade vive aquele legalismo que não cria nada de novo, que não permite a novidade ultrapassar a letra da lei e prejudica a obra da redenção². Quando o homem não se sente seguro na fé, se agarra em leis, acredita que a salvação é como um código de normas sem sentir falta do verdadeiro conhecimento de Cristo, manifestando falta de abertura ao Espírito³.
Segundo São Paulo, os frutos do Espírito são: “amor, alegria, paz, paciência, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, autodomínio” (Gl 5,22). Esses são os sinais que acompanham os que vivem a liberdade e a fidelidade a Cristo. A escrupulosidade e a submissão não-crítica podem passar uma falsa imagem de estado de graça, mas, na verdade, não passam de medo e de falta de objetivo. Uma pessoa livre e fiel em Cristo traz a coragem de empenhar-se profundamente na justiça, não hesita diante do risco, pois confia no Senhor, acredita que Deus doa recursos interiores para sermos criativos e fiéis4. Para São Paulo, não se pode honrar mais a lei do que a Jesus. A primeira coisa a ser feita é receber Jesus na fé, como dom do Pai e tornar-se livre para se entregar de todo coração ao amor a Deus e ao serviço ao próximo5.
A esfera ética, quando “é reduzida a simples “deve”, à mera consciência do dever, pode formar […] uma pessoa submissa à lei […]. Mas não pode formar uma pessoa criativa e responsável”6. “O fundamento da moralidade cristã é a vida em Cristo Jesus: “estar em Cristo”. Em tal vida não há lugar para a ética simplista do ‘faça’ e do ‘não faça’, nem para ética e imitação externa de propósitos desintegrados”7.
Jesus veio trazer para nós o que é a verdade. E a verdade que Ele torna evidente é a de que Deus é absoluta liberdade no amor – autodoação, e Ele revela que se nós vivenciamos essa liberdade, entregando à morte o nosso egoísmo e nos colocamos em atitude de serviço aos nossos irmãos, descobrimos quem realmente somos. O amor é livre, é criativo, é generoso e se compromete com a libertação de todos8.
Pe. Fagner Dalbem Mapa, C.Ss.R.
1 – HAERING, Bernhard. Livres e fiéis em Cristo: Teologia moral para sacerdotes e leigos. Vol 1. in Teologia moral geral. Ed. Paulinas. p.70; 2 Cf. Ibidem. p. 70-71; 3- Cf. Ibidem. p. 124; 4 – Cf. Ibidem. p. 90; 5 – Cf. Ibidem. p. 123; 6 – Ibidem. p. 92; 7 – Ibidem. p 94; 8 – Cf. Ibidem. p.28
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