Santo Afonso e o jeito de ser Redentorista
- Pe. Vicente Ferreira, C.Ss.R.
- 1 de ago. de 2016
- 3 min de leitura

Nossa Igreja tem a alegria de iniciar o mês vocacional com a festa de Santo Afonso. Abrimos o agosto, que muitos o têm como tempo de azar, com uma sorte muito grande. Com isso, somos convidados a olhar alguns aspectos do itinerário afonsiano como inspiradores do que chamamos “jeito de ser Redentorista”.
Êxodo é uma das palavras marcantes no itinerário do fundador dos Redentoristas. Alguém disse um dia que Afonso foi “exódico e não exótico”. Há diferenças aí? Claro! Inúmeras foram as passagens, os cortes e as rupturas até chegar a uma clareza vocacional. De Nápoles a Scala houve um processo cheio de nuances, apostas, perguntas. Imagine que com 16 anos o jovem napolitano, filho de uma família nobre, já era doutor em Direito Canônico e Civil. Foi até os 23 anos trabalhando como advogado sem perder causa alguma. Em sua primeira derrota nos tribunais, viveu grande desilusão por ter sido vítima de corrupção. Tomou, então, a difícil decisão de abandonar seu posto e buscar algo mais. É conhecida sua frase “mundo agora te conheço, adeus tribunais”.
Dizer adeus é sinal de crescimento na caminhada Redentorista. Nisso creu o fundador. É preciso saber ir aparando aquelas arestas que nos impedem de viver com maior liberdade. De outro modo, somos seres de conversão. No horizonte da fé, amadurece quem tem coragem de se por em movimento como peregrinos de Deus. Foi assim também com Abraão e tantos outros. Fica aí um primeiro apelo: os continuadores da Copiosa Redenção não podem se acomodar com posturas prontas, rígidas e nem com aquilo que adoece o humano. Em alguns momentos, só mesmo o adeus trará novos horizontes. Aliás, reestruturação da Congregação é uma realidade que tem sido prioridade de nosso Governo Geral.
Com 30 anos, Afonso se tornou padre. Escolha que lhe custou incompreensões principalmente por parte de seu genitor. Porém, lá se foi ele. Sempre apaixonado pelos mais fracos, trabalhou com pessoas gravemente adoecidas, com os condenados à morte e muitos outros pobres. Esgotado de trabalhar, foi para um descanso em Scala e aí se encontrou com os cabreiros. Gente simples, sem nenhum conhecimento de religião. Foi a motivação fundamental para que fundasse a Congregação Redentorista em 1732. Sempre eles, os pobres, atravessaram o caminho de Afonso. Cena comovente é sua saída de Nápoles no lombo de um burrico. Deixou tudo e foi ao encontro do resto, dos pequenos.
Ah! Se fôssemos mais atentos à dor do irmão. Se colocássemos mais em dia o mandamento do amor. Certamente, estaríamos na atualidade, globalizando a solidariedade e não assistindo ao massacre de tanta gente por causa do egoísmo. Sem dúvida, a fraternidade é outra dimensão bem Redentorista. Alma de nosso Instituto: “Enviou-me para evangelizar os pobres”. Redentorista que se aliena do mundo e não se sensibiliza com o sofrimento do outro, não é autêntico filho de Afonso. A proximidade com o povo, suas dores e alegrias, é sangue indispensável para a vitalidade de nosso carisma. É a tão falada ética da vida ou moral cristã. Não é à toa que Redentorista que se preza aprofunda-se nos valores e contra valores de seu tempo.
Depois que fundou a Congregação Redentorista, em 1732, Afonso se viu num constante movimento de produção de vida. Fez até o voto de não perder um minuto de tempo. Não foi à toa que, além de tantas missões, ainda teve vasta produção literária (111 obras); compôs canções e escreveu poesias. De onde lhe vinha tanta inspiração? Certamente, da intensa vida orante que levava. Em um de seus escritos, disse: “quem reza se salva, quem não reza se condena”. Tinha um pé bem plantado no meio da vida de seu povo e outro enraizado no cultivo espiritual.
Assim notamos que ninguém anuncia aquilo de que não faz experiência. Sem mística, qualquer iniciativa missionária perde a qualidade. Outro dia alguém dizia: naquela Igreja existe uma estrutura muito boa, mas nada funciona. Aprendemos, assim, com nosso fundador, que para dar razões de nossa fé é necessário muito estudo e cultivo constante da intimidade com Deus. Senão, correremos o risco de cair na repetição ingênua de palavras ou até mesmo no vazio existencial. Espiritualidade e muita formação, eis um ponto indispensável para quem deseja ser genuinamente Redentorista.
Fonte: www.projetoclareiras.com
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