Um missionário além fronteiras
- vocacionalredentor
- 8 de out. de 2015
- 4 min de leitura

Desde junho deste ano, o padre Ronaldo Divino de Oliveira, C.Ss.R., Redentorista da Província do Rio de Janeiro, vive uma profunda experiência missionária na Paróquia Cristo Rei, na vila de Furancungo, no distrito de Macanga, Província de Tete-Moçambique. No depoimento abaixo, ele conta como tem sido esse tempo, relata suas impressões, dificuldades e motivações.
Alô, alô, gente amiga! Viva, viva! Salve, salve!
Estou vivendo minhas núpcias com Moçambique. Encontro-me em Furancungo - uma vila que fica no distrito de Macangá, a 200 km de Tete, que é a cidade e sede da diocese. Para percorrer esta distância, gasta-se cinco horas, dada a precariedade das estradas, tanto a asfaltada como a de terra. Os 76km da estrada de terra se faz em três horas. A Missão Redentorista aqui teve início em 2011. Vivo com os dois missionários pioneiros da Missão. Ambos são irlandeses e já viveram no nordeste do Brasil.
O outro grupo missionário presente aqui em Moçambique veio da Argentina. Os primeiros missionários chegaram em 2002. Temos uma boa parceria. Inclusive, participei com eles de uma Missão Popular de 10 dias em Inhassoro, uma vila de pescadores que fica a quase 1000 Km de onde eu resido.
Nossa Missão em Furancungo consiste em atender, pastoralmente, às aldeias que estavam sem presença de sacerdote. Um padre jesuíta vinha somente na paróquia e nas aldeias mais próximas. As mais longínquas não tinha como ele atender, dada a distância e as condições precárias das estradas. Mesmo sem um atendimento mais constante, encontramos uma boa organização paroquial (Ministros da Palavra, Catequese, Grupo Jovem e a Legião de Maria). Quando saímos em Missão, ficamos três ou cinco dias atendendo as aldeias. Agora, com relativa frequência, tem celebrações da Eucaristia, batismo e casamentos.
As celebrações se convertem num grande acontecimento. Daí, serem demoradas. Como vocês sabem, o africano tem um ritual próprio para expressar sua alegria. Para Deus, reserva o melhor das colheitas e ofertam com muito bailado. Em média, 15 a 20 minutos o tempo da apresentação das oferendas. Aqui, é um bom exercício para a paciência. Quem é “estressado”, melhor não vir para a África!
Não vou detalhar as carências e as privações em termos do necessário para uma vida saudável e digna. Precariedade na saúde, habitação, educação, alimentação e energia elétrica. Às vezes, ficamos dois dias sem energia elétrica. As ruas não tem saneamento básico, não são calçadas. Na rua onde moramos, não tem iluminação. Sair à noite nem pensar, por causa do mosquito transmissor da malária e porque não tem o que se ver. Quem sai à noite é visto como alguém que quer fazer o mal.
A falta de mais conforto e comodidade no transporte, na saúde e na habitação constitui os maiores desafios. Não tem como ter água encanada. Não tem como ter chuveiro em casa. A escassez de água faz a gente ser econômico. Sendo assim, a roupa não fica bem lavada. Temos que reaprender outros hábitos alimentares. Nossa região não é de criação bovina. A carne mais consumida é de cabrito. Como me faz falta o nosso queijo mineiro, o pão de queijo, a carne bovina nem que fosse a moída! Maçã, só quando vamos a Tete.
A língua oficial é o português, como se fala em Portugal. Todavia, há a língua nativa que eles preservaram. Não chega a ser um empecilho. Estou a falar o “portuchewa” (português e chechewa). O importante são os gestos. São eles que ficam. E neste quesito eu não tenho maiores problemas. Apelo para o que posso. Até o Roberto Carlos (cantor) tem me ajudado. Ele precisa ser informado que traduzi o refrão e uma estrofe da sua música mais conhecida aqui: Jesus Cristo!
Se a Igreja perder sua vocação missionária, perde sua força na beleza e arte de evangelizar. A importância da missão “ad gentes” para a Igreja e, sobremaneira, a nossa Congregação, é manter aceso e sempre vivo o seu carisma. Não estou aqui sozinho, mas sim, em comunhão com a Igreja e com os meus confrades redentoristas. Somos uma congregação missionária na Igreja. E uma dádiva que Santo Afonso deu e que nós continuamos. Temos, por missão, revitalizá-la, sobretudo, aceitando estar presentes naqueles lugares onde muitos não querem ou podem estar, enfrentando os desafios da acomodação e da mesmice pastoral.
Por fim, estou aqui no ano da Vida Consagrada, no qual o papa Francisco está a exigir de nós todos, e especialmente de nós religiosos, uma “igreja de saída”, levar e ser o Evangelho da alegria em todos os lugares. E, aqui na África, o continente da esperança, é este lugar. “Por causa de um certo reino, estradas eu caminhei, buscando sem ter sossego o reino que eu vislumbrei”. “Sou cidadão do infinito, do infinito e levo a paz no meu caminho, no meu caminho”.
“Eu tenho tanto pra lhe falar, mas com palavras não sei dizer, como é grande o meu amor por você”. É a minha mensagem final. Obrigado a todos pelas orações e pela presença sempre solidária e amiga.
Padre Ronaldo Divino de Oliveira, C.Ss.R.
Vila de Furancungo - Província de Tete-Moçambique
Fonte: www.provinciadorio.org.br
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