A alegria é a nossa evasão do tempo
- vocacionalredentor
- 22 de set. de 2014
- 3 min de leitura
Um coração verdadeiramente feliz e alegre compreenderá o titulo deste artigo, porque experimenta na própria existência a satisfação e o gozo que somente uma alegria sincera e gratuita pode nos conceder. Ao mesmo tempo, este pensamento da filósofa e mística, Simone Weil, nos questiona para pensarmos a alegria em nossa sociedade de consumo, geradora de uma tristeza individualista que se contenta comodamente com os fugazes e superficiais prazeres do cotidiano, que mais parecem engodo e espuma que se esvai, e acredita ser possível comprar a alegria e a felicidade. Vivemos num tempo de pessoas apáticas, incapazes de vibrar e entusiasmar-se verdadeiramente com a vida. Uma autêntica alegria tem o poder de nos transportar gostosamente para além do tempo, do mundo puramente material e biológico, devolvendo-nos a consciência de que somos chamados a nos realizar plenamente como pessoas, desenvolvendo e aperfeiçoando nossas potencialidades humanas.
Fala-se muito, atualmente, em alegria, satisfação e felicidade. Existem até receitas que pipocam aqui e acolá, ensinando como conquistá-las. Mas parece que poucas pessoas realmente experimentam a alegria como uma força de vida, que ultrapassa as tristezas e desilusões de nossa finitude, e nos recorda que nossa origem está na transbordante bem-aventurança de Deus, que nos convida a participar do festim sem fim da Sua alegria e felicidade. Esta alegria muda às perspectivas e olhar que temos sobre nossa vida e sobre os eventos que nela têm lugar. Como dizia Johan Goeth: “A alegria não está nas coisas, está em nós”. E ela nasce do amor, pois se queremos ter uma profunda alegria de viver, temos ao mesmo tempo de procurar uma profunda vivência do amor. Saber-se amado e capaz de amar, eis uma verdade que transforma nossa vida e nos permite vibrar de alegria com tudo aquilo que nos cerca, ficamos “bobos”, extasiados, apaixonados. Passamos a comunicar a alegria que recebemos gratuitamente ao próximo. Somos capazes de rir de nós mesmos, sem nos levar muito a sério.
Alegria tem muito a ver com “entusiasmo”, que vem da raiz grega: en+theos+ásthama, e significa aquele que traz dentro de si o sopro de Deus. É por isso que a alegria ultrapassa a limitação humana e nos faz adentrar no domínio do divino, o que acontece conosco é um “endeusamento”. Deus passa a habitar dentro de nós, sua força e sua alegria são também as nossas, e permanecem. Estar entusiasmado significa chegar à plenitude da alegria. O teólogo redentorista Bernhard Häring nos recorda “que o entusiasmo tem os seus momentos fortes, mas não deve ser um fogo passageiro. O autentico entusiasmo derrete a dureza do coração, liberta da indiferença interior e supera muitos outros obstáculos”.
Mas a alegria requer cultivo, como todas as outras virtudes. É através do “bom-humor” que a exercitamos no dia-a-dia. Esse antídoto contra as tempestades provocadas pela tristeza, e contra as posturas e os ambientes abafados pela indiferença e o fechamento. O bom-humor tem um surpreendente poder curativo, ao lado dos pequenos e grandes sacríficos do cotidiano, dos gestos abrasadores de carinho e cordialidade e do bom senso, convertem nossos pensamentos, mudam nossas atitudes e dissolvem as tensões. Que seria de nós sem a saudável alegria, nossa salvação em meio ao tempo retilíneo e sem graça, que ao lado do entusiasmo e do humorismo nos liberta e redime o nosso coração dos nossos próprios bloqueios, lamentações e enrijecimentos? Que sejamos visitados constantemente por uma alegria secreta e transbordante, que nos faz pensar que apesar de tudo, temos muitas razões para nos alegrarmos e também contagiar os outros de alegria. Fiquemos com a exortação do sacerdote Esdras ao povo de Israel:
"Vão para casa, façam uma bela refeição, bebam um bom vinho e repartam com os que não têm nada, porque hoje é dia consagrado ao nosso Senhor. Ninguém fique triste, pois a alegria do Senhor é a vossa força" (Ne 8, 10)
Rodrigo Costa - Noviço da Província do Rio
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