O SIM de Maria, testemunho para todos nós
- vocacionalredentor
- 11 de jun. de 2014
- 4 min de leitura
Neste final do mês de maio, proponho aqui uma breve reflexão sobre Maria e sua aceitação radical do projeto de Deus, que serve de testemunho para todos nós. Para tanto, convido-o a voltar seu olhar para as páginas do Livro Santo que nos falam acerca de Maria Santíssima. E, como sabemos, ninguém melhor que Lucas, o evangelista mariano por excelência, para nos oferecer informações preciosíssimas sobre tão insígne personagem da história da salvação. O primeiro relato envolvendo a figura de Maria no Evangelho lucano é a Anunciação. De acordo com as pesquisas histórico-exegéticas, nessa ocasião, Maria, estava uma jovem com cerca de treze anos. Era noiva de José e ambos moravam em Nazaré. Maria devia proceder de uma família pobre. Como todas as demais jovens de sua época, que compartilhavam do mesmo contexto histórico-geográfico-econômico-social, Maria devia ter muitas atividades, tanto no que se refere aos cuidados para com o lar, quanto aos deveres para com a religião, já que seus pais lhe educaram para tanto. Além disso, como todo jovem de qualquer época e lugar, Maria devia trazer em seu coração, planos para sua vida e seu futuro. Sim, Maria devia ter um projeto de vida. Nessa realidade concreta, a Virgem Santíssima recebe a visita do Arcanjo Gabriel. Uma visita que promete mudar completamente a sua história. O mensageiro dos céus, ao se por diante da jovem de Nazaré, saúda-lha, revelando, logo de início, a magnitude da notícia que lha tem a incumbência de comunicar. “Alegra-te!” (Lc 1,28). Não percamos a força contida nessa expressão. Muitos tradutores usaram o termo “Ave” no lugar daquele que preferimos usar. Mas o termo grego correspondente à saudação angélica é justamente “Kaire!”, “Alegra-te!”. Por que se alegrar? Qual a causa de tanta alegria? Retornaremos a esse assunto posteriormente. Maria, assustada pela presença daquela criatura celestial, pôs-se a pensar o que significaria tal saudação (Lc 1,29). É então que o anjo lha anuncia: “Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim.” (Lc 1,31-33) Maria se percebe confusa. Tem dúvidas quanto a esse anúncio. Como poderá engravidar-se se não é desposada com homem algum? (Lc 1,34) E mais: como ficam os seus projetos e sonhos pessoais? Será que vale a pena renunciar aos seus sonhos? Será que vale a pena dar um corte profundo na trama de sua história particular, em vista de uma suposta mensagem dos céus? Qual a garantia de realização que há em tudo isso? E o anjo do Senhor lha explica sua sublime missão: a de dar à luz o Filho de Deus. A pequena garota de Nazaré possui a maior de todas as missões: trazer ao mundo o Messias, aquele que será o libertador do povo de Israel e garantia de salvação para toda a humanidade. É nesse momento que Maria entende o chamado que Deus faz a si para desempenhar uma missão aqui na terra. E por descobrir que se trata de algo maior e mais sublime que seus próprios ideais, ela imediatamente se coloca à inteira disposição do Senhor. Aceita radicalmente o projeto de Deus em sua vida. Não pensa em conseqüências que a aceitação de tal projeto poderia eventualmente lhe trazer (como, por exemplo, o rótulo de adúltera e sua condenação à morte por apedrejamento em praça pública por não dar à luz um filho de José). Maria diz SIM a Deus. Um sim pleno e confiante. Ela confia incondicionalmente em Deus. É por isso que exclama, com a mais plena certeza que brota do fundo de seu coração: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra!” (Lc 1,38). A Mãe de Jesus tem certeza de sua missão aqui na terra. Agora ela compreende efetivamente o “Alegra-te” ao qual o anjo lhe convida. E qual é essa missão? Ela a descreve poeticamente em seu canto do Magnificat. Sua alma glorifica o Senhor, por tê-la escolhido, mesmo diante de sua pequenez. É agora, através dela, que Deus irá estender sua misericórdia, através de seu Filho vindo ao mundo, sobre todas as gerações. É agora que Deus irá desconcertar os soberbos, derrubar os poderosos de seus tronos e exaltar os humildes; saciar de bens os famintos e despedir sem nada os ricos, acolher a todo o povo de Israel, seu povo eleito, como havia prometido (Lc 1,46-55). Maria tem a missão de fazer presente entre os seus o Reino de Deus, trazendo Cristo ao mundo, mas também propondo-se a viver segundo Ele, segundo seus ensinamentos, em sintonia com o seu projeto de amor. É por isso que dizemos que Maria foi mãe e discípula. Além de trazer o Salvador ao mundo, ela procurou viver intensa e efetivamente o que o Filho e Mestre ensinou. É por isso que ela se põe a caminho de Ain Karim, aldeia de sua prima Isabel, para servi-la durante sua gravidez na velhice (Lc 1,39-45), é por isso que ela, atenta às necessidades reais do povo, intercede ao Filho nas Bodas de Caná (Jo 2,1-12); é por isso também que ela permanece unida aos apóstolos no Cenáculo em oração, à espera do Espírito Santo Paráclito (At 1,12-14), pois percebe que seu lugar é no seio da comunidade, animando e dinamizando o povo para a missão. Maria entendeu a estreita conexão existente entre o “kaire” angélico, sua missão, e a lei do amor proposta por Jesus. E não só entendeu, como procurou vivenciar esse projeto em toda a sua vida. Sim, sua missão foi viver o amor, fonte inesgotável da verdadeira e perene alegria. Nossa Senhora experimentou esse amor incondicional e oblativo, viveu-o na doação de si mesma aos irmãos e hoje é modelo para todos nós. E agora, cabe a nós, na pequenez de nossas vidas, assim como foi a de Maria, entender o que Deus quer de cada um de nós e procurar vivenciar nossa missão efetivamente no dia-a-dia de nossas vidas. É comigo e com você que Ele conta hoje para continuar o projeto de seu Filho. Façamos como Maria! Descubramos nossa verdadeira vocação, a vocação ao amor, arrisquemos viver por amor, sem medo! Doemo-nos por nossos irmãos. Somente assim descobriremos o significado do “Kaire”, do “Alegra-te”, que o anjo Gabriel também nos convida hoje!
Francisco Gonçalves Romano Seminarista do Ano SPES / Província do Rio Fonte: www.provinciadorio.org.br
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